Ostra feliz não faz pérola
Um processo de evolução, apesar de contínuo e exponencial, quase nunca acontece de forma linear e sem percalços ou dores. Já dizia a frase célebre que é título de uma famosa obra de Rubem Alves e foi repetida mais de uma vez durante as lives do Geralmente Quinta-Feira: “Ostra feliz não faz pérola”. É foi sobre estes grãozinhos de areia que causam dor e incômodo, mas que são necessárias para crescer, evoluir e produzir as mais belas e raras pérolas que aconteceu um encontro no dia 17 de janeiro de 2022 para trocarmos sobre o papel os Inspiradores do Desenvolvimento da Sicredi Caminho das Águas.
Trazer para consciência mudanças tão significativas e necessárias para que nossa cultura evolua não é fácil e requer a coragem de se mostrar vulnerável e sair da zona de conforto, se desafiando e abrindo mão das crenças que moldaram a nossa cooperativa por mais de 100 anos e ainda estão entranhadas nas convenções sociais, nos acordos trabalhistas e no ego de cada um de nós.
Como já mencionamos por aqui, nossa cooperativa iniciou no ano de 2020 uma ressignificação dos cargos onde, cada célula definiu qual era o papel que estava disposto a desempenhar para apoiar nosso propósito e, mais tarde, nossa visão compartilhada. Os gerentes de agência, um cargo conhecido e famoso em instituições financeiras, uma posição de poder que destinava as pessoas a tomarem as rédeas e as decisões difíceis, a responder por tudo e qualquer coisa que acontecesse dentro dos seus domínios foi - neste processo de evolução- renomeado para Inspiradores de Desenvolvimento e não apenas o nome foi atualizado como as atividades do cargo foram adaptadas para nosso novo momento.
Mais de um ano depois desta ressignificação, muita coisa se transformou na nossa cooperativa e a autonomia dada aos acreditadores foi, aos poucos, tirando dos antigos gerentes o poder de tomar certas decisões e gerir as equipes com o comando e controle habitual. Também neste período, regionalizamos alguns dos inspiradores para que eles desempenhassem seus papéis em mais de uma agência. Sem o poder na onipresença e da onisciência, o controle ficou cada vez mais para trás neste novo formato de gerenciar. A hierarquia sendo substituída pela confiança, responsabilidade e interdependência.
Nos reunimos neste início de 2022 para falar um pouco sobre as dores deste processo e como ser melhor que si mesmo dentro dos nossos papéis poderia ser potencializado através do diálogo, da transparência e do alinhamento com a nossa cultura. Um de nossos inspiradores abriu o momento com a frase: “Não queremos ego, poder ou vaidade, mas que todos estejamos conectados verdadeiramente com as estratégias da cooperativa”. Fazendo um resgate dos encontros e discussões anteriores que a célula já teve.
Durante nosso encontro que precisou ser virtual devido ao aumento recente dos casos do Coronavírus, os inspiradores foram convidados a trazer para superfície o que tem perturbado e o que poderia ser aprimorado frente aos desafios e oportunidades na nossa cooperativa. Como citei na abertura deste texto, “Ostra feliz não faz pérola”, e vimos que não eram poucos os grãos de areia que estamos incomodando nossos acreditadores.
Dentre os assuntos levantados durante a discussão estavam que eles tem muitas dúvidas sobre os limites das suas atuações, que as possibilidades são amplas e é difícil estar conectado e entender o todo, que as conexões com dos demais papéis atualmente são muito superficiais e também veio à tona questões relacionadas ao real significado de dar o seu melhor em um ambiente evolutivo quando várias demandas operacionais tinham sido retiradas do seu escopo.
Um dos inspiradores citou ainda que sente desprendimento da teoria versus a prática do que é proposto e que não vê avanço nestas reuniões onde discutimos e não se decide nada há meses, se referindo as reuniões semanais que a célula realiza com o objetivo de trocar e fortalecer as estratégias de apoio à nossa visão compartilhada.
O Mentor da Facilitação, Daniel Port parafraseou nosso antigo Farol da Cultura Alvaro Link citando a frase: “A incoerência é o combustível para um ambiente de autogestão”. Trazendo para os presentes que estes diálogos e a teoria, literaturas e trocas são importantes para termos a consciência destes incômodos e podermos ter subsídios para mudar o que não faz sentido. Ele destacou ainda que o alinhamento dos Inspiradores de Desenvolvimento com a Cultura é vital para a criação de um ambiente de verdade, transparência, inovação e autogestão.
Hoje o papel dos inspiradores se divide em três atuações: alianças, estratégias e pessoas. Durante o encontro, foi destacado que o pilar pessoas é o que deve direcionar 90% do tempo dos colegas, pois são os acreditadores das células e equipes que eles devem inspirar e apoiar. Alianças e estratégias também devem ser levadas em conta, mas de forma macro, servindo mais para conectar a estratégia da cooperativa com as atividades dos colegas da ponta mostrando o melhor caminho e não conduzindo todo o processo.
Ainda sobre o pilar pessoas, os inspiradores foram convidados a listar o que eles entendem por cuidar das pessoas em um ambiente evolutivo e autogerido. Dentre as muitas contribuições, expressões como: ouvir as pessoas, dar apoio, ser inspiração, alertar e prevenir, acolher, dar segurança, estar atento, instigar o desenvolvimento, falar sobre as responsabilidades, aconselhar, ajudar a perceber o ambiente foram trazidas, mostrando que os conceitos estão alinhados.
Nas falas, também foi o momento de conectar o cuidar das pessoas também com o estilo de liderança das organizações autogeridas, o líder facilitador, o qual tem como atribuição ajudar as pessoas a compreender e planejar, tornar fácil, orientar, direcionar, tirar obstáculos e estimular a visão de abundância. Também foi destacado algumas das ferramentas que eles possuem para atuar com as pessoas: liderança situacional, coach, mentoria, diálogos e principalmente conexão e aderência com a cultura.
Este foi um primeiro encontro de muitos outros, não teve como objetivo trazer verdades absolutas e imutáveis, mas de iniciar um diálogo aberto e transparente. Para cuidar de pessoas e ajudar a liberar os potenciais represados, o primeiro passo é olhar para si mesmo e a forma como eu estou lidando com as mudanças. Olhar de escassez, de perda e de descrença ou acreditando, percebendo oportunidade e abrindo espaço para novos aprendizados e caminhos?
Um convite para tirar o ego do caminho e olhar para as mudanças com mindset de crescimento, dor de dono e cuidado e se conectar com o verdadeiro significado de inspirar.
AUTORA : Thamires Rosa
Intérprete da Cultura
DATA: 20 de janeiro de 2022
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