O sonho não acabou
Na minha trajetória na cooperativa tive o prazer e a oportunidade de conhecer um senhor de quase 60 anos no escritório da Emater de Balneário Pinhal RS, quando eu realizava uma visita, era mês de Outubro de 2019 e esse homem se chamava Alexandre, estatura baixa, cabelos grisalhos, olhos castanhos, pele clara com algumas marcas deixadas pelo tempo e pelo sol, voz calma e de tom baixo, ele era um pescador daquela praia a mais de 50 anos diria que por toda sua vida, era proprietário também de um pequeno estabelecimento que havia sido construído em cima de uma duna em uma área de preservação ambiental na beira mar de Balneário Pinhal, existia a mais de 20 anos e era chamado de Restaurante do pescador.
Todo feito em madeira, as paredes eram pintadas em azul claro e as janelas brancas já muito desgastadas com o tempo, ambiente muito simples mas muito acolhedor, famoso por ter o melhor bolinho de peixe e o risoto de camarão da região, tudo preparado com muito capricho e amor pela sua companheira Jaque, uma mulata faceira e disposta que contagiava a todos com seu sorriso e simpatia. Seu Alexandre e o filho mais velho Xisto pescavam no mar e traziam em suas redes uma grande variedade de peixes fresquinhos para o preparo dos pratos que eram servidos nos restaurantes e para os quitutes que a Jaque preparava e vendia e também para a entrega ao consumidor final.
Ali dentro daquele olhar profundo e pensativo existia um grande sonho, que era construir um restaurante panorâmico em um terreno próprio ao lado do antigo, mas fora das dunas, pois ele precisava sair da área de preservação ambiental e também se adequar ao SIM que era o sistema de inspeção municipal devido as normas da vigilância sanitária, pois vendia os peixes mortos, limpos e filetados e para isso seu estabelecimento precisava ter além da área para alimentação e atendimento ao cliente, também várias salas especiais com tanques, pias, câmeras frias e depósito de resíduos, onde era realizado o processamento do pescado. Mas como? Se o valor que a família vinha guardando a anos não era suficiente para a realização desse grande sonho? Foi então que após uma visita regada a um almoço maravilhoso preparado pela Jaque e muita conversa seu Alexandre se tornou um associado da cooperativa e em um pouco mais de um mês entregamos a ele um valor de financiamento na linha de investimentos do crédito rural, que somado ao valor que ele tinha guardado, foi possível dar início as obras. E a cada etapa eu estava lá, observando o sorriso de satisfação e o brilho nos olhos daquela família que já fazia planos para as próximas temporadas de verão.
Mas quando faltava pouco, muito pouco para a chegada do grande dia da inauguração do tão sonhado e esperado restaurante, seu Alexandre adoeceu, foi levado para o hospital de Tramandaí cidade vizinha de Balneário Pinhal, onde permaneceu internado por muitos dias e nunca mais voltou para sua casa, sua família, seus amigos, seu mar e nem para ver o seu maior sonho realizado. Lembro-me bem que em meio ao desespero, pela falta do pai, do companheiro, Jaque e Xisto seu filho mais velho, uniram as forças e seguiram adiante para a conclusão a obra e a realização do grande sonho da vida do seu Alexandre. E está lá um lindo restaurante panorâmico todo envidraçado (como ele dizia), e como ele sempre idealizou e sonhou. Nas paredes foram colocados quadros com fotos que contam um pouco da história de lutas e realizações dessa família e desse grande homem que deixou muitos amigos, clientes queridos e um belo legado. Todas as vezes que lá retorno, tenho a impressão de vê-lo na frente da obra ou saindo dela, com aquele olhar tímido, cabelos grisalhos bagunçados pelo vento, com um lindo sorriso no rosto dizendo: chegou a moça do Sicredi.
AUTORA: Claudete Lima da Silva
Parceira do Agro
EDIÇÃO: Thamires Rosa
DATA: 28 de outubro de 2021
TAGS: #Potencial #dordedono #cuidado #mindsetdecrescimento #liberaropotencial #negócioscomsignificado #sonhosrealizados #associadonocentro